Há muito tempo venho adiando a escrita dessa postagem, mas agora com o lançamento do Star Wars: Legion no Brasil, acredito que seja o momento mais oportuno para essa publicação.
Essa série de postagens será dividida em 3, indo dos equipamentos e materiais mais básico e fáceis de encontrar até os mais difíceis e caros.
- Sobre indicações de lojas e marcas
A indicação de marcas e lojas não teve infelizmente nenhum jabá $$$, antes tivesse, pelo menos eu economizaria uma grana 🙂 . A indicação das marcas e lojas (nacionais e importadas) foi na intenção de facilitar a escolha de produtos (e disponibilidade), como possibilidade e opção e não regras.
- Sobre proporções
Ao longos desses textos eu irei me referir muitas vezes a proporções, sempre que o fizer elas virão na estrutura tipo essa 2:3, que quer dizer para cada duas partes de A mistura-se 3 partes de B. Para medir as partes eu utilizo uma seringa, foi a maneira mais prática que consegui para manter proporções entre uma preparação de tinta e outra e minimizar a diferença de cor.
- Sobre misturas
Assim como há necessidade de estabelecer um parâmetro para as proporções, eu também utilizo uma padronização na forma de misturar as coisas. Sempre que preciso misturar ou diluir dois produtos que serão utilizados com frequência (como por exemplo, diluir tinta azul com vidrex para pintar os escudos dos Stormcast) eu faço a diluição em pequenos potinhos conta-gotas de plástico (no fundo dessa foto estão enfileirados meus potinhos com tinta diluída – eu escrevo neles também qual a tinta, marca, código e proporção, para o caso precisar fazer mais). Além disso, observei que se ficar um tempo sem mexer com um potinho de tinta (isso vale para QUALQUER pote, nacional ou importado) a parte mais ao fundo começa a endurecer. Para resolver isso comecei a utilizar pequenas esferas metálicas (as que comprei são para esmalte e utilizadas por manicures) dentro dos potinho. Com isso, na hora de sacudir o potinho melhora a mistura.
As tintas que serão misturadas, para obter uma nova cor, uma variação da cor ou algo do tipo eu normalmente faço a mistura, e diluição, em um pires de porcelana. Nunca consegui me adaptar à técnica de paleta molhada, aqui está um vídeo explicando-a.
Aqui cabe uma ressalva: já vi várias pessoas mencionarem que essas esferas enferrujaram dentro do pote e perderam a tinta. Até hoje não aconteceu comigo, mas utilizem por conta e risco.
- Preparação da miniatura (não se aplica às miniaturas Reaper, nem a linha Dungeons & Dragons Nolzur’s Marvelous – ambas as linhas já vem prontas pra pintar, sem a necessidade de lavagem ou aplicação de primer)
As miniaturas, de modo geral, são feitas em grandes moldes, que permitem a fabricação em série. De modo a miniatura não ficar presa no molde são utilizados desmoldantes. Além disso, alguns tipos de miniaturas também recebem uma fina película de proteção, para ser manuseada durante o jogo. Para realizar a pintura, em geral, é necessária a lavagem da miniatura, de modo a retirar resíduos de desmoldantes ou essa película de proteção e a melhor maneira de fazer isso é com detergente e uma escova de dente. No geral, eu deixo a miniatura de molho em água com detergente durante um tempo (30m / 1h) e em seguida faço a lavagem com a escova de dente, enxágue e secagem.
- Primer
Antes de tudo, o que é o primer? Primer é um tipo especial de produto que busca aderir em uma superfície (existem primer para vários tipos de superfícies diferentes – plástico, metal, madeira, resina, entre outros) de modo a possibilitar a aplicação de tinta depois. No geral você encontrará primer em duas maneiras: líquido (que muitas pessoas fazem referência como ‘de pincel’) e aerosol (spray). Nunca utilizei o de spray, a única experiência que tive com spray foi pra pintar tiles de cenário e foi uma experiência ruim, tanto por dificuldade de controle da quantidade de tinta quanto por conta do cheiro que impregnou a casa e a vizinhança inteira. Desse modo, para miniatura, sempre utilizei o primer líquido nacional (Acrilex), se você estiver pintando somente miniaturas um pote de 100ml dura bastante, caso pretenda pintar cenários recomendo o pote maior.
Uma segundo item importante com relação ao primer é a diluição. No geral, todos os produtos nacionais (e mesmo vários internacionais) precisarão de diluição. A primeira forma de diluição que utilizei foi em água (eu, no geral, utilizo tintas e produtos a base de água), como faz tempo, não lembro exatamente a proporção de diluição que utilizei, esse blog recomenda a diluição em 1:2, 1 parte de primer para 2 partes de água, acredito que seja algo próximo a isso que eu utilizei, na época eu não achava que essas proporções era importantes (pra se ter ideia do nível da inocência…). Sempre teste um produto em um outro material antes de pintar as miniaturas, SEMPRE! Especialmente se for a primeira vez que irá utilizá-lo. Atualmente eu diluo qualquer coisa que eu vá utilizar (tinta nacional, primer nacional, verniz nacional, wash Vallejo – as importadas não, tratarei disso na terceira parte dessa postagem) com vidrex Veja. Para o primer, considerando que utilizo aerógrafo pra aplicação, diluo na proporção de, aproximadamente, 2:3 e no geral misturo o primer com alguma tinta, já previamente diluída também, já aproximando o melhor possível da cor base que será utilizado posteriormente.
Já adiantando uma coisas que refere-se a produtos importados, nunca utilizei primer importado, por não estar na minha leva de prioridades. Mas espero importar algum da Vallejo ainda esse ano.
Ressalva: Existe um discurso de que qualquer tinta fosca serve como primer, esse discurso é forte especialmente entre pessoas que utilizam spray. Tecnicamente eu discordo, pois a forma de adesão da tinta é diferente da forma de adesão do primer, assim como a superfície gerada após a aplicação (mais lisa com tintas, enquanto que com o primer é mais áspera – já que receberá uma camada de tinta posteriormente). De todo modo, é importante deixar clara essas duas perspectivas aqui.
OBS.: Foi adicionado um comentário, no grupo sobre Star Wars: Legion, mencionando que os primers de qualidade deixam a superfície lisa e que primer que deixa superfície áspera é porque é de qualidade ruim.
- Tintas foscas
Uma dúvida recorrente de quem quer começar a pintura suas miniaturas é: quais tintas comprar? Existem duas marcas bem fáceis de encontrar em papelarias, a Acrilex e a Decorfix, e que atendem, relativamente bem, a realização dos trabalhos. Somente utilizei tintas Decorfix do tipo metálica, no próximo tópico tratarei desse tipo de tinta. As tintas que utilizo, em sua imensa maioria, são Acrilex, da linha Nature Colors, foscas, a base de água. Eu, pessoalmente, costumo comprar potes de 60ml para as tintas menos utilizadas e de 250ml para as mais utilizadas (preto, branco e marrom – por eu estar criando cenários tipo floresta), mas não há diferença, com relação a tinta, entre os potes de 37ml, 60ml e 250ml (o pote de 60ml tem uma espécie de conta-gotas, o que facilita na hora de misturar/diluir a tinta diretamente no pires). Costumo comprar tintas, pincéis nacionais, vernizes nacionais, colas e outros insumos nesse site, até hoje somente tive problema com eles em uma ocasião, que será mencionado ao falar dos pincéis, pois está associado a isso.
Com relação às tintas ainda, reforço que, no geral, a tinta é utilizada sempre diluída, o que torna necessário a aplicação de mais de uma camada de tinta, até chegar na cor desejada.
- Tintas metálicas
De modo geral, as tintas metálicas nacionais são horríveis (Acrilex e Decorfix), tanto nos tons quanto na viscosidade do produto. Elas acabam que parecem ser uma pasta. A única experiência aceitável de tinta metálica nacional que tive foi com a marca Silverbright. Pra se ter uma ideia, a base desse miniatura abaixo foi com a tinta dessa marca aplicada com aerógrafo (devidamente diluída com vidrex, é claro).
Apesar de não existirem opções nacionais satisfatórias, existe a possibilidade de comprar tintas importadas aqui no Brasil, entrarei nesse detalhe na terceira publicação, quando tratarei de importação de tintas, mas as marcas que recomendo são: Vallejo, Citadel, Revell.
- Vernizes
Assim como no caso dos primers, o verniz também é encontrado em aerosol (spray) e líquido (para pincel / aerógrafo). Nunca utilizei o verniz em spray, pelo motivo já explicitado, assim como nunca utilizei o aerógrafo para passar verniz. Utilizo o verniz, Acrilex, fosco, à base de água, somente com pincel e diluído no vidrex, sendo a proporção que utilizo pra diluição de 3:2. Em alguns casos bem específicos, utilizo verniz brilhante, à base de água. Nesse caso, no momento da compra somente encontrei o Decorfix, daí então que a única experiência que tenho com verniz brilhante é essa.
Ressalta: 1) como o verniz que utilizo está diluído com vidrex, pode acontecer dele interagir com o wash, o que é negativo, pois pode afetar o jogo de sombra que foi feito; 2) a aplicação de muito verniz Acrilex fosco (as vezes até mesmo pouco gera o problema) sobre tinta metálica deixa a pintura embaçada, então utilize com moderação; 3) no caso de cenário, normalmente, utilizo MUITO verniz, no entanto, pode acontecer de ficar um pouco esbranquiçado em alguns pontos.
- Pincéis
Sobre os pincéis nacionais, eles são ruins! É possível encontrar alguns aceitáveis, minha única experiência, minimamente satisfatória, é com os da marca Condor (todos os pincéis da marca Tigre que utilizei foram horríveis). Dentre os da marca Condor existem os de pelos naturais e os de pelos sintéticos. No geral, os de pelos naturais tendem a ser melhores (não recomendo, pra miniatura, os de pêlo de orelha de porco, os melhores nacionais que utilizei são de pelo de marta), no que diz respeito a absorção da tinta. O último pincel nacional que comprei foi o Condor, pelo de Marta, Ref. 415, tamanho 0. Recomendo muito a importação de pincéis de qualidade (retomarei isso na terceira publicação) ou a compra de pincéis importados em lojas nacionais, como a Mercado RPG (infelizmente, nesse caso, é caro…).
Sobre o tamanho dos pincéis: eu tinha uma percepção, no início, de quanto menor o tamanho do pincel, mais preciso seriam os trabalhos, no entanto, com o tempo, pude constatar que os pincéis pequenos (normalmente os 00, 000 ou mesmo os menores que isso da Army Painter) somente são utilizados em situações muito específicas, e que no geral o de tamanho 0 consegue atender.
Um outro detalhe importante e que está associado a única experiência negativa que tive com a loja Casa da arte é com relação à proteção das cerdas do pincel. Em uma ocasião (já realizei umas 5-7 compras com a loja) um dos pincéis veio sem o tubo protetor das cerdas, o que causou um leve dano, pois as cerdas eram longas. Desse modo, enfatizo a importância desse tubo protetor nas situações em que os pincéis forem transportados ou guardados por algum tempo.
- Remover tinta
A forma que utilizo quando preciso remover tinta é deixar a peça de molho um tempo, em geral de 1h-2h é o suficiente, em Pinho Sol e depois utilizar uma escova de dente pra ajudar a retirar a tinta. Funciona muito bem em quase todos os tipos de peças, com exceção das miniaturas Reaper. Nessas miniaturas não recomendo deixar de molho, o que dificulta bastante a retirada de toda a tinta, mas se deixar ela de molho as miniaturas ficam pegajosas.
Encerramos por aqui e até no meio do mês será publicada a próxima postagem sobre materiais e procedimentos para a pintura de miniaturas e cenários, já entrando em materiais e situações em que se precisa montar miniatura, preparar e montar a base, retirar rebarbas, entre outras questões.
Atualizado em 13 de junho de 2018
Marcos, muito bacana o teu texto.
Começando aprender mais sobre pinturas de minis. fiquei curioso a respeito da diluição com vidrex. qual o motivo?
Opa Laurindo, cheguei a te responder algumas coisas no Instagram. As tintas da Acrilex tem um problema com relação à pigmentação, elas tem muito menos pigmentação do que as tintas importadas destinadas ao hobby de pintura (como Army Painter, Vallejo, Citadel), com isto, caso você dilua ela com água ela tenderá a apresentar uma consistência bem pior e ampliará o tempo de secagem. A diluição com vidrex (o tradicional azul) acelera o tempo de secagem e torna a consistência um pouco menos pior que a água (tem uma questão química envolvida que eu não sei te detalhar, mas esta utilização para o vidrex é herdada do pessoal de plastimodelismo que utiliza tinta a base de água). Uso o vidrex, também, para limpeza do aerógrafo e ele é ótimo para isto!
Acrilex é interessante para iniciar e começar a aprender a pintar, pois tem um custo benefício relativamente bom e é fácil de encontrar (há também a Aquacollor – ou algo assim). Mas, caso se interesse realmente em continuar pintando, vale MUITO a pena investir em tintas específicas para o hobby (pessoalmente eu prefiro Vallejo), no geral, não há o problema/necessidade de diluição de tinta/primer, ela já vem no ponto de ser utilizada para a pintura (infelizmente o dólar no valor que está acabou tornando meio proibitivo a importação, mas já comprei muita coisa no Miniature Market e em vendedores no Ebay).