O ‘The Game Awards’, as premiações do tipo ‘The Game of the Year’ e a indústria de jogos

Todos estamos acostumados com as discussões sobre ‘jogo do ano’, ‘goty’ ou ‘game of the year’ e se um jogo é ou não um candidato forte para receber o prêmio. No entanto, chama a atenção a infinidade de premiações do tipo ‘game of the year’ que existem. Ao mesmo tempo, uma destas premiações vem se consolidando como um parâmetro mais sólido e busca assumir os ares de ‘oscar dos games’: a The Game Awards.

As premiações do tipo ‘game of the year’

Como mencionado, há um conjunto de grupos, entidades, publicações, entre outras denominações que premiam os jogos na categoria ‘jogo do ano’. É interessante que processo semelhantes ocorre com os filmes. Apesar da premiação mais famosa (e glamurosa) ser o Oscar, há uma infinidade de outras premiações, cada uma com suas particularidades (como o próprio Oscar tem): Festival de Cannes, prêmio do Sindicato dos roteiristas de EUA; Palma de Ouro, entre outros.

Desta forma, para citar algumas destas premiações de jogos e os períodos que elas realizaram premiações, temos:

  • Spike Video Game Awards – de 2003 a 2013;
  • The Game Awards (sucessor de Spike Video Game Awards) – a partir de 2014;
  • BAFTA Interactive Entertainment Awards – de 1998 a 2003;
  • British Academy Games Awards (sucessor de BAFTA Interactive Entertainment Awards) – a partir de 2004;
  • Czech Game of the Year Awards – de 2010 a 2018;
  • Academy of Interactive Arts & Sciences – de 1997 a 2012;
  • D.I.C.E. Awards (sucessor de Academy of Interactive Arts & Sciences) – a partir de 2013;
  • Game Developers Choice Awards – a partir de 2000;
  • Golden Joystick Awards – a partir de 1983;
  • Japan Game Awards (anteriormente: CESA Awards) – a partir de 1996;
  • NAVGTR Awards – a partir de 2001;
  • SXSW Gaming Awards – a partir de 2013. ((A maioria das informações apresentadas foram retiradas de https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_Ano e https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Game_of_the_Year_awards .)).

O The Game Awards

A impressão que se tem é que o The Game Awards vem se consolidando como o Oscar dos games no ocidente. Apesar dele derivar do Spike Video Game Awards tendo, inclusive, o jornalista de game Geoff Keighley como responsável, para mim faz pouco sentido tratar os dois como a mesma premiação (como algumas vezes ocorre), assim como considerar que os ganhadores do prêmio anterior foram avaliados com os mesmos critérios((Alguns detalhes da história da premiação podem ser lidos aqui https://en.wikipedia.org/wiki/The_Game_Awards .)). Ou seja, premiações diferentes, modelos de avaliação diferente!

O que mais chama a minha atenção no The Game Awards é que ele parece ser técnico (em vários níveis) e, neste sentido (e em correlação direta com o Oscar, de filmes), possui várias categorias de premiação (algumas mais técnicas, outras menos), sendo elas (as categorias e descrições foram retiradas do próprio site deles, sendo que as descrições foram traduzidas por mim):

  • Game of the Year: reconhecendo o jogo que entrega a melhor experiência de jogo através de todos os campos criativos e técnicos;
  • Action Game: para o melhor jogo do gênero ação, focado, prioritariamente, em combate;
  • Action / Adventure Game: para o melhor jogo de ação/aventura, combinando combate com solução de puzzle;
  • Art Direction: pela excelente realização criativa e/ou técnica em design artístico e animação artística;
  • Audio Design: reconhecimento do melhor design de áudio e design de som em jogo;
  • Community support: reconhecimento pelo excelente suporte à comunidade, com transparência e responsabilidade;
  • Content creator of the year: para o streamer ou criador de conteúdo que teve o impacto mais importante e positivo no ano da premiação;
  • Esports coach: o treinador de esports considerado o mais extraordinário em performance e conduta;
  • Esports event: reconhecimento ao evento único (de um único dia ou vários dias) que oferece a melhor experiência aos participantes, fãs e audiência;
  • Esports game of the year: para o jogo que oferece a melhor experiência geral de esports aos jogadores (incluindo torneios, suporte à comunidade e atualização de conteúdos), independente do gênero e da plataforma;
  • Esports host: o melhor apresentador ou comentador de eventos de esports (tanto local quanto transmitido), independente do jogo ou língua;
  • Esports player: o jogador de esports considerado o mais extraordinário em performance e conteúdo, independente do jogo;
  • Esports team: reconhecimento de uma equipe individual considerada a mais extraordinária em performance e conduta;
  • Family game: para o melhor jogo, apropriado para jogos em família, independente do gênero e plataforma;
  • Fighting game: para o melhor jogo desenvolvido em torno de combate um contra um;
  • Fresh indie game: reconhecimento para um novo estúdio independente que lançou seu primeiro jogo no ano da premiação;
  • Game direction: premiação pela extraordinária visão criativa e inovação na direção de jogo e no design de jogo;
  • Games for impact: para um jogo que provoque uma reflexão com mensagem ou significado focado no social;
  • Independent game: para excelentes realizações técnicas e criativas em um jogo, produzidas fora do sistema das editoras tradicionais;
  • Mobile game: para o melhor jogo jogado e dedicado a dispositivos móveis;
  • Multiplayer game: para uma excelente experiência de jogo e design de multiplayer (incluindo aqui Co-Op e multiplayer massivo), independente do gênero e plataforma;
  • Narrative: pela excelência na narrativa e no desenvolvimento da história em um jogo;
  • Ongoing game: premia o jogo pelo desenvolvimento excepcional de conteúdo ao longo do tempo, de modo a aprimorar a experiência do jogador;
  • Performance: premia uma pessoa pela performance na atuação da dublagem e/ou captura de movimento;
  • Role-playing game: para o melhor jogo desenvolvido com riqueza na personalização do jogador e pela progressão, incluindo experiências de multiplayer massivo;
  • Score & Music: premia a música, música original e/ou trilha sonora licenciada;
  • Sports/Racing game: pelo melhor jogo de esporte/corrida, tradicional ou não tradicional;
  • Strategy game: melhor jogo focado em jogabilidade de estratégia, em tempo real ou turnos, independente da plataforma;
  • VR/AR game: para a melhor experiência jogável em realidade virtual ou realidade aumentada, independente da plataforma.

Além disto, conforme eles informam no site((https://thegameawards.com/faq .)), as votações para os indicados ocorrem de duas formas: voto da crítica((Podemos e devemos até questionar em que medida o voto da crítica, ou de qualquer crítica e criadores de conteúdo, são votos técnicos e não pautados em gosto pessoal e afinidade, mas isso talvez seja uma discussão para outra postagem…)) especializada e voto do público. Os nomeados a concorrer são indicados após a compilação das indicações da crítica especializada, sendo que são envolvidos neste processo mais de 80 grupos editoriais, de diversos países (incluindo 4 representantes brasileiros – The Enemy, Uol Jogos, Voxel e Jovem Gamer). Já para a votação final é feita uma relação entre voto da crítica (90%) e voto do público (10%, sendo que o público pode votar novamente a cada 24h).

O site apresenta ainda a informação que a lista de indicados é definida até final de setembro, com isto, temos uma data limite bem específica para que o jogo possa concorrer ao prêmio naquele ano (ocorre algo parecido também com o Oscar e outras premiações do mesmo tipo).

Algumas ponderações sobre o The Game Awards e uma reflexão sobre a indústria de jogos

Antes de tudo, é importante reconhecer que, pelo menos teoricamente, há uma preocupação com o processo de diversificação e inclusão de outras ‘culturas’ produtoras de jogos (para além da americana – até porque a indústria japonesa é extremamente forte e consolidada, no último The Game Awards o discurso de recebimento do prêmio pelo Kojima, Death Stranding, e Hidetaka Miyazaki, Sekiro, foram em japonês!). No entanto, isto aparece somente em 1 prêmio (que premia o destaque em qualquer língua), nos outros há a necessidade da produção ser acessível ao público americano (o que é compreensível, em certa medida).

Uma outra ressalva, que também se aplica a outras premiações, é que ela não busca premiar, necessariamente, um jogo que seja ‘para qualquer jogador’, para qualquer público. Isto se evidencia na premiação do Sekiro o ano passado, que, por ser um jogo do gênero souls, definitivamente não agrada a todos.

Premiações não buscam recompensar um jogo que entregou a experiência mais divertida, pois ela não se limite a questão da diversão (!). Ela pode estar buscando, justamente, premiar o jogo que consiga sair da mesmice (em estrutura narrativa, em emoções suscitadas, expectativas quebradas) – ou, como consta na descrição do prêmio, a melhor experiência de jogo, no campo criativo e técnico -; por isto, a premiação de 2020 tem mobilizado tantas paixões pelos torcem para The Last of Us: Part II e para que torce pelo Ghost of Tsushima, apesar de achar que o Final Fantasy VII – Remake possa surpreender – para quem busca analisar a área dos jogos como um todo, pode ser meio frustrante a hegemonia das Sony no fim da geração.

Em que medidas as premiações são técnicas?

Longe de dizer se uma premiação usa critérios justos ou não, é importante que elas usem critérios e não somente o elemento puramente subjetivo do gosto ao definir os vencedores. Critérios técnicos possibilitam que pessoas diferentes olhem para o mesmo jogo e estabeleça se ele atende ou não ao esperado (apesar do limite do que é o esperado poder carregar uma forte marca subjetiva). Coisa bem diferente que ocorre com o gosto – que é puramente por impressão, ou associações de impressões. Um jogo pode ser MUITO divertido para uma pessoa, enquanto que para outra pode ser um porre (por exemplo, no passado gostei MUITO de ter jogado Final Fantasy VII, no PS1, com o sistema de batalha baseado em turnos; no entanto, hoje, não gosto mais deste estilo de jogo em turnos e, por isto, gostei muito da mudança feita no Remake).

Este é um ponto que me chamou a atenção, positivamente, para o The Game Awards, na medida em que ele parece mobilizar critérios técnicos para a avaliação dos jogos (e mostra para a indústria que, se seus jogos forem neste caminho, receberão premiações e indicações por isto!). Por isto é que sou bem reticente com relação a premiações estabelecidas puramente por votação do público na internet – que tende a ser por gosto -, afinal, qualquer sistema deste está sujeito a estratégia de vote bomb e está, muitas vezes, limitado ao limite de acesso dos jogadores a diferentes plataformas – inclusive este último ponto é um dos motivos para que o The Game Awards evite uma votação totalmente com voto do público – essa info consta no FAQ deles.

É claro que nunca abrimos mãos totalmente das coisas que nos movem e nos formam, então, em alguma medida, sempre haverá uma parcela, mesmo que pequena e sob vigilância, de subjetivismo nas escolhas, por isto, sempre temos nossos favoritos!

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Marcos Eduardo
Em busca da grande pergunta sobre a 'vida, o universo e tudo mais'!
Jogador e narrador de RPG na tentativa de aprender a pintar miniaturas e criar cenários para seus jogos!

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